Sem mexer na Constituição, reforma alternativa de Bolsonaro atinge mais INSS

Sem mexer na Constituição, reforma alternativa de Bolsonaro atinge mais INSS

Os trabalhadores da iniciativa privada podem ser mais afetados que os servidores públicos se o presidente Michel Temer e o eleito, Jair Bolsonaro, trabalharem em conjunto pela aprovação ainda em 2018 de uma reforma da Previdência sem alterar a Constituição.

 

 

Diante da falta de apoio no Congresso e do tempo curto até o fim do ano, a mudança de regras de aposentadoria por projeto de lei ou medida provisória tem sido apontada como alternativa à proposta de emenda à Constituição que está parada no Congresso.

 

 

Embora a aprovação de uma medida nesse sentido seja considerada uma boa sinalização para o mercado, vai de encontro ao discurso de que é necessário acabar com privilégios —adotado tanto por Temer quanto por Bolsonaro.

 

Sem mexer na Constituição, porém, a maior parte das mudanças possíveis é exatamente nas regras dos trabalhadores vinculados ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

 

Entre as mudanças que podem ser feitas por votação simples, sem alternação constitucional, estão a extinção da fórmula 85/95, o aumento da contribuição mínima para se aposentar por idade (hoje em 15 anos) e mudanças nas regras de cálculo de pensão por morte.

 

O benefício de quem ganha maiores remunerações —os funcionários públicos— está mais protegido pela Constituição. Eles têm um sistema separado, o regime próprio de Previdência Social.

 

Para os funcionários públicos, o ponto mais significativo que poderia ser alterado por meio de lei ou medida provisória é a contribuição previdenciária, hoje em 11%.

Técnicos do Congresso fizeram chegar proposta de elevação da alíquota para servidores, entre outras medidas, à equipe de transição de Bolsonaro.

Essa solução poderia ser usada como parâmetro para os estados e ajudá-los a aliviar as contas públicas.

 

Esse cenário, porém, é considerado pouco provável por causa da grande mobilização contrária, que inclui todas as esferas de Poder.

 

Além disso, importantes aliados de Bolsonaro, como o futuro ministro da Casa Civil, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), e o então deputado Major Olímpio (PSL-SP), foram contrários às mudanças para o funcionalismo na tramitação da proposta de Temer, enviada no fim de 2016.

 

Após reunião com Bolsonaro nesta quinta-feira (8), o governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), afirmou que o presidente eleito trabalha por uma proposta de reforma que não altere a Constituição neste ano.

 

“Tanto Michel Temer quanto Bolsonaro estão trabalhando para que a reforma da Previdência seja de matéria infraconstitucional”, afirmou ele.

 

Para aprovar alteração na Constituição, seria necessário suspender a intervenção no Rio de Janeiro.

Na mesma tarde, o atual secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, demonstrou pouca esperança de que mudanças na Previdência sejam aprovadas neste ano.

 

“Se conseguir, ótimo. […] Mas, se não aprovar, é o fim do mundo? Não é. O que o mercado espera é a aprovação da reforma da Previdência no próximo ano”, disse, ao deixar reunião com a equipe de Paulo Guedes, futuro ministro da Economia.

 

“O grosso da reforma da Previdência é constitucional”, disse o secretário, que, nos bastidores, está cotado para permanecer na gestão Bolsonaro.

 

Enquanto uma mudança na Constituição exige o voto de 3/5 dos parlamentares, em dois turnos de votação, a aprovação de um projeto de lei ou de medida provisória precisa de maioria simples.

 

Temer, diante da falta de apoio parlamentar e do aperto nas contas públicas, chegou a enviar uma medida provisória para aumentar de 11% para 14% a contribuição previdenciária dos servidores, mas terminou barrada pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

 

Procurados pela Folha, os presidentes da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), dizem não ter conversado sobre detalhes com Bolsonaro.

 

Deputados e senadores procurados pela reportagem disseram que uma conversa mais contundente deve ficar para a próxima semana.

Eles alegam que repercutiu mal entre os parlamentares a declaração de Guedes sobre dar uma “prensa” no Congresso. Além disso, até o recesso, há apenas cinco semanas de trabalho.

 

A equipe de Bolsonaro já mudou o discurso várias vezes. Na campanha, defendeu um projeto novo, com base em contas individuais.

 

Após a eleição, Bolsonaro disse que o projeto de Temer era “remendo novo em calça velha” e falou em fazer uma reforma justa.

 

Ele citou como exemplo a ampliação em um ano do tempo de trabalho para servidores e resgatou o mote do ex-presidente Fernando Collor, prometendo acabar com a “farra de marajás”.

 

Fonte: Folha de SP

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